domingo, 29 de maio de 2011

IntercomSul 2011 - Reflexões sobre um congresso aproveitado ao máximo!

por Marcele Antonio


Imagine 1500 alunos de Comunicação se encontrando durante três dias para expor trabalhos, trocar experiências e ouvir grandes profissionais da área! Agora pense nisso sem barreiras entre habilitações: quem é de Jornalismo tem acesso à Publicidade, quem é de Publicidade tem acesso ao Marketing, que tem acesso à comunicação audiovisual... Engrandece e abre horizontes. No IntercomSul 2011, em Londrina, quis aproveitar ao máximo as apresentações, palestras e oficinas. Com os meus colegas isso foi ainda mais proveitoso.



Na quinta-feira (26), abertura do evento, conhecemos o Presidente da Intercom, Dr. Antonio Carlos Hohlfeldt. Engajado, esperançoso, revigorante. Conhecemos também a professora Marialva Carlos Barbosa. Crítica, afiada, certeira. Ah, nessa noite, ainda, um instrumento simples ficou incrível nas mãos de umas lindas senhorinhas de um grupo de acordeon, de Londrina. Cantaram e encantaram a gente: cantamos, levantamos, interagimos.


A abertura já dava o start de um congresso que tinha tudo para ser cheio de aprendizado, de descobertas. E foi mais. Foi autoconhecimento, sem exagero. De tudo, guardo a oficina com Sergio Vilas Boas como a minha melhor escolha no Intercom. Imprevista por mim, e até pelo oficineiro. Peguei a oficina nas vagas remanescentes, e e o Vilas Boas, substituiu o escritor José Castelo. Foi surpresa e coincidência, que um pouco antes, comprei um livro do Vilas Boas sem saber que ele estava no congresso, circulando e compartilhando seu conhecimento. Não perdi tempo. Participei da oficina – Perfis e como escrevê-los – mesmo nome do livro. Encantadora. Voltei a sentir vontade de escrever. Vilas Boas deu dicas pontuais, mas antes de tudo, refletiu com a gente sobre os tantos personagens que podem vir a ser perfis. Desconstruiu algumas ideias que tinha, amadureceu outras e principalmente, me instigou a procurar por esses personagens, a escrever sobre eles. Talvez tenha descoberto um lado do jornalismo que já havia passado os olhos, mas só agora enxerguei. Sergio Vilas Boas é jornalista com pensamento positivo, e transmitia isso até na maneira de andar: tranquilidade. Não precisamos nos apavorar: existem alternativas para se trabalhar com o que gosta. Dá pra viver nessa profissão, sim, e não só, sobreviver.



Pra se ter noção da qualidade do evento, considerei a oficina do Vilas Boas a melhor de todas as participações, mas olha as outras: Sandro Dalpícolo, da RPCTV falando sobre o livro “Uma nova luz na sala” e Laura Rejane, do Sportv, falando sobre o projeto “Passaporte Sportv”. Cara, é um banho de experiência. E o melhor de tudo, todos esses jornalistas nos entendem enquanto estudantes, nos olham com olhar de quem já ocupou as cadeiras universitárias e fazem de tudo pra melhorar nosso aprendizado. Facilitam nossa vida, dão conselhos, são acessíveis, disponíveis. Gente que quer ver a profissão seguir em frente renovada, com a nossa cara.


E aí serviu pra aprendermos uma lição: temos trabalhos ótimos que precisam ser mostrados! Nenhum deles escapa de estar inscrito no próximo Intercom. E entre outras coisas, dá pra se divertir, dar muita risada, e agradecer, profundamente, aos professores: lembramos deles a todo momento, em rádio, TV, impresso, web, pesquisa, assessoria. Enfim, resumo a viagem para o IntercomSul  com uma das ótimas frases que Vilas Boas nos falou: “Precisamos estar atentos às pessoas que fazem e não às pessoas que dizem que fazem”. 

Linda, linda



Ele tinha os olhos fixos na mocinha que estava sentada, lá no canto da discoteca, na pequena cidade de Imaruí, Santa Catarina. Todas as mulheres que estavam no baile dançavam e tentavam ter, pelo menos, um tiquinho da atenção dele, mas a única que havia ganhado merecimento de profundo olhar era ela: Maria de Fátima de Souza Lima. No meio da festa, começa a tocar uma música romântica. No ambiente ouvia-se Tim Moore cantar “Yes”. O moço parecia ter ouvido a deixa da canção e se aproximou dela. O jovem Alaor segura a mão que iria acompanhá-lo por mais tantos anos.
Ah, o destino. A moça nem queria ir ao baile. Sentia-se envergonhada pelo que havia ocorrido um ano e meio antes: apaixonou-se por um rapaz, que passava todos os dias em frente ao seu trabalho, em Florianópolis. Uma amiga dela namorava o primo desse amor platônico e fez as formalidades de apresentação. Daí em diante, foi um curto passo até o namoro. O nome dele era Patrício. “Ele era muito galinha”. E em meio à paixão, a catarinense acabou engravidando do Patrício. Ele fugiu da responsabilidade, como seus homônimos da Roma Antiga fugiam dos tributos.
E a Maria? Ficou desolada. “Sofri muito, porque eu o amava. Ele foi meu primeiro homem”, conta entristecida. Pensava na vergonha que estaria causando a seus pais. Mas o amor do seo Antonio e da dona Idalina não se abalou por isso. Eles acolheram a filha grávida e cuidaram-na como se fosse uma princesa.
Foi justamente o seo Antonio que aconselhou a filha a ir ao baile que mudaria a vida dela. Ele percebia que ela andava triste, cabisbaixa, e queria vê-la feliz. “Meus pais me amavam de paixão”.
Depois da primeira dança, uma vida inteira seria dividida. No outro final de semana, Alaor foi à casa de Maria pedi-la em namoro, e quando já fazia três meses que estavam juntos, convidou-a para vir conhecer a família dele, que morava em Cascavel, Paraná. Ficaram 3 dias aqui. Depois retornaram para Santa Catarina.
Tudo ia bem. Eles planejavam “juntar as escovas de dente” logo. Mas um desastre acabou adiando a união. No dia 18 de novembro de 1986, Maria estava voltando de uma cidade vizinha com seu patrão e os filhos dele, quando sofreu um acidente de carro. Ela tinha ido regularizar os documentos para o casamento. Ela se machucou bastante e ficou engessada por um mês. Somente no dia 23 de dezembro o sonho dos dois pode ser concretizado: vieram para Cascavel, construir sua vida a dois.
A situação não era das melhores. Por isso, ela deixou o filho, Lucas, com seus pais, em Imaruí. Depois de um ano no oeste paranaense foi buscar o filho.
“Passamos fome, foi muito difícil. Eu morava num paraíso, com meus pais e não sabia.” Alaor ficou sem emprego por um tempo e Maria, como não conhecia nada na cidade, também não foi atrás de trabalho. Lá, em Imaruí, a vida era farta. Ela, os pais e os 14 irmãos moravam em uma fazenda, que o seo Antonio herdou de seu pai. “Um lugar lindo. Tinha vários animais, um cafezal, um engenho de farinha de mandioca. Tínhamos do bom e do melhor”, enfatiza. O pai cuidava das lavouras e dos animais, e a mãe trabalhava em um Colégio na cidade. Enquanto a mãe ganhava o dinheirinho para ajudar no orçamento da família, Maria cuidava dos irmãos e da casa. “Depois que comecei a cuidar da casa, minha mãe não sabia nem onde estavam as cuecas do meu pai. Tudo era eu quem fazia.”
Os problemas em Cascavel se agravaram quando o filho de Maria veio morar com ela e o marido. Alaor tinha ciúmes do menino, que recebia muita atenção da esposa. “Eu venci essa batalha, com muita conversa e cautela. Sabia que ele um dia iria relevar e perceber que se desse amor, receberia amor do meu filho.” E foi o que aconteceu. Alaor até registrou o menino.
Logo, Lucas ganhou uma irmãzinha, Isabela. E dois anos depois veio a Jéssica. A família estava  formada. E falar de família com a Maria é pedir para que seus olhos se encham de lágrimas. Ela recorda com muita riqueza de detalhes a relação que tinha com os pais e que, mesmo com todos os empecilhos no caminho, o sentimento jamais foi, sequer, arranhado. “Vou visitar minha família de vez em quando. Meu pai, infelizmente, faleceu, e minha mãe ainda está viva, com 80 anos, doentinha. Antes de meu pai ir embora para sempre, lembro que assim que eu chegava na porta de casa, ele exclamava: ‘Oh, linda, linda que bom que você chegou’. Aquilo enchia meu coração de amor, respeito e carinho por aquele homem que tanto me ensinou na vida.”
Hoje, Maria trabalha em uma faculdade como faxineira. Seu marido é pedreiro. Os dois filhos mais velhos fazem faculdade. Os desafios da vida fizeram-na cada dia mais sorridente, com seus cabelos ruivos cacheadinhos e curtos que dão aquele ar de doçura e simpatia, os quais me aproximaram dela para contar essa história. Mulher lutadora. Quem diria que uma senhora baixinha, com uma voz tão calma e com tanta serenidade no olhar, poderia ter uma força de uma gigante para por a sua família nos trilhos do carinho, da harmonia e da compreensão? Pois é, essa grande esposa, mãe e pessoa fez das dificuldades escadas para conseguir ser feliz.


Por Tátila Pereira