JULHO DE 2010

Quem diria. Nós, favoritos. O futebol mais bonito do mundo, os jogadores mais talentosos. A seleção do pedala Robinho esqueceu a beleza do futebol, colocou técnica. Vimos os primeiros jogos insossos, parados. Pedíamos mais, mais Brasil. Cadê, cadê você Kaká? Nos primeiros sinais da aparição do “bonitinho”, uma expulsão. Fosse ele tão calmo quanto bonito, não sairia do jogo. Vimos um gol irregular. Fingimos que não vimos. Enxergamos erros evidentes da arbitragem: a favor ou contra nós. Esperávamos a cada minuto que a seleção exótica de Dunga levantasse o ânimo. Xingamos, xingamos demais o Dunga. Fosse ele tão bom técnico quanto é caro o seu casaco, tínhamos agüentado mais nessa copa. Sentimos medo da misteriosa Jabulani. A esfera quase perfeita, os chutes todos errados. Demos até um nome diferente pra corneta de pobre: vuvuzela. Depois da empolgação dos primeiros jogos, queríamos que aquele som irritante não existisse. Escutamos asneiras do narrador: “sentiu, tira”, “driblou o juiz”. E criamos o fenômeno #calabocagalvão. Fosse ele tão bom narrador, quanto feia é sua gravata amarela, não teríamos preferido a Band.
Mas tudo bem. Por enquanto, estava dando resultado. Sofrido, raspado e sem graça, mas estava dando resultado. Até que as camisetas laranjadas fizeram o uniforme amarelo virar azul. Um primeiro tempo bonito de se ver. Sentimos coragem, e deu até pra ser prepotente. Robinho, gol impedido. Agora sim: Robinho, gooool! E no segundo tempo, sentimos aquela Jabulani ser levada por Felipe Melo até Júlio Cesar. As mãos santas do goleiro que dessa vez não funcionaram. Contra. Empate, dava tempo de recuperar. Esperávamos ansiosamente que Dunga mexesse no time. Nada. Felipe Melo de novo. Agora, falta. Já tinha seu amarelo, pisou no holandês e conseguiu o seu vermelho.
Benditos branquelos fluorescentes: fizeram um segundo gol e agora, não era acidental. Tinhamos mais uns 20 minutos pra decidir: ou vai ou racha. Bate desespero. E jogador nenhum parecia mais ter domínio de bola. Chutes desvairados. Uma seqüência de escanteios sem sucesso. Um Mick Jagger sentado na arquibancada, um azar tremendo. Aí a velha esperança do bom brasileiro já se desmanchava. Mas não é possível, meu Deus. Cinco minutos. Dois. Um. Acréscimos. 56, 57, 58, 59. Apita o árbitro. O som mais temido e infeliz da copa: o apito final entre Holanda e Brasil. Acabou. Hexa agora, adiado para 2014, em casa. As vuvuzelas soam tristes, desafinadas. O brasileiro volta pra uma rotina que já estava desabituado. Uma nação verde e amarela chora uma lágrima doída. Está pra nascer uma dor mais indecifrável do que a de sair de uma Copa do Mundo. Tchau África: o sonho brasileiro vai deixar de enfeitar as tuas terras.
Mas tudo bem. Por enquanto, estava dando resultado. Sofrido, raspado e sem graça, mas estava dando resultado. Até que as camisetas laranjadas fizeram o uniforme amarelo virar azul. Um primeiro tempo bonito de se ver. Sentimos coragem, e deu até pra ser prepotente. Robinho, gol impedido. Agora sim: Robinho, gooool! E no segundo tempo, sentimos aquela Jabulani ser levada por Felipe Melo até Júlio Cesar. As mãos santas do goleiro que dessa vez não funcionaram. Contra. Empate, dava tempo de recuperar. Esperávamos ansiosamente que Dunga mexesse no time. Nada. Felipe Melo de novo. Agora, falta. Já tinha seu amarelo, pisou no holandês e conseguiu o seu vermelho.
Benditos branquelos fluorescentes: fizeram um segundo gol e agora, não era acidental. Tinhamos mais uns 20 minutos pra decidir: ou vai ou racha. Bate desespero. E jogador nenhum parecia mais ter domínio de bola. Chutes desvairados. Uma seqüência de escanteios sem sucesso. Um Mick Jagger sentado na arquibancada, um azar tremendo. Aí a velha esperança do bom brasileiro já se desmanchava. Mas não é possível, meu Deus. Cinco minutos. Dois. Um. Acréscimos. 56, 57, 58, 59. Apita o árbitro. O som mais temido e infeliz da copa: o apito final entre Holanda e Brasil. Acabou. Hexa agora, adiado para 2014, em casa. As vuvuzelas soam tristes, desafinadas. O brasileiro volta pra uma rotina que já estava desabituado. Uma nação verde e amarela chora uma lágrima doída. Está pra nascer uma dor mais indecifrável do que a de sair de uma Copa do Mundo. Tchau África: o sonho brasileiro vai deixar de enfeitar as tuas terras.
Marcele Antonio
Aprenda, VIVA
JUNHO DE 2010

A vida precisa de mais cheiros. De mais gostos. A vida precisava aprender com a Lady Gaga a ser mais glamourosa. Você tinha que fazer a vida perceber que acordar as 6 horas da manhã é ser feliz: você tem algo pra fazer, você tem uma meta pra cumprir e tem mais 18 horas pra aproveitar. Olhar todos os dias para o espelho, sorrir com a cara amassada e dizer oi pra você mesmo. Cantar Poker face no banheiro. Gostar do shampoo. Comer bolacha recheada como se tivesse no recreio da escola. Ir trabalhar com o cabelo molhado e não se importar. Chegar no trabalho e perceber que você está fazendo aquilo que gosta; que aquelas pessoas que estão ali, every day with you, são personagens da sua crônica mais bem feita. A vida tinha que aprender a demitir o calendário. Você devia adorar não saber que hoje é terça feira, 29 de junho.
Devia contar o tempo por sorrisos; devia fazer aniversário sempre que se sentisse campeão: por ter sido promovido, por ter superado o final de semestre na faculdade, por ter conseguido lavar sua roupa sozinho, ou simplesmente, por ter deixado as roupas sem lavar. Você devia fazer aniversário cada vez que aprendesse uma palavra nova. A vida precisa falar pra tecnologia que ela existe, ajuda, mas não substitui carne e osso. Você tinha que seguir o conselho do Lenine: enquanto o mundo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa. A vida não para, e devia enxergar que ela é tão rara.
Marcele Antonio
Uma Maria chamada Gadú
JUNHO DE 2010
Um leve cheiro de coisa nova
JUNHO DE 2010

2016JUNHO DE 2010
Ah, se os casais mal sucedidos vissem 2046. Não sofreriam. Jamais acordariam à noite para olhar as estrelas. Não lembrariam, depois, de como foram infelizes. Conformariam-se com a saga dos amantes, com todos os truques que apenas funcionam para evitar o 'eu te odeio!'. Assim. Simples. Passe bem, sua idiota!. Quando quiser, venha buscar o DVD do Smiths. A blusinha lilás está no quarto dos fundos. Sem problemas. No hay ressentimentos. Nem sempre a solução está na caixinha de remédios. Às vezes, o maior bem para as decepções amorosas se encontra em uma sala de cinema. A esperança está no quarto ao lado. No 2046. A única inconveniência, é que o hóspede sempre muda. O casal de eternos apaixonados, ao ver 2046, lembraria o que já estava escrito antes mesmo de se conhecer naquela boate. Analisaria com mais cautela antes de se aventurar deixando suas famílias de lado. A impossibilidade em concretizar o amor ecoaria. Nas ruínas do big-bang, já estava escrito. Não vai dar certo! Só quem quiser se engana. Dura. Dois dias. Três. Cinco anos. Depois disso, acaba. Desde o jogo das algas marinhas até a dormir em conchinha. O casal não esqueceria que o amor encerra as portas às duas da manhã e não ouve mais nada. Não há saideira. Deveria entender. Existe algo de inteligente nisso. Respirar. Admitir. É o que se pode fazer. O amor acaba. Com um bocejo no café da manhã e um grito de puta. Acaba às 5h30 da manhã, sendo anunciado por um galo. E é necessário ouvir bem para se tocar. Tinha uma história de uma mulher que gemia em u. Numa noite de verão suspirou em i. Não houve surpresa pra ela. Pela manhã, o travesseiro ao lado estava vazio. Seu marido partiu.Não há segredo nenhum em Segredos do amor - 2046 - de Wong Kar-Wai. É como se fosse um torcedor comum que levanta uma placa no estádio: Eu já sabia! Comemorando o título do seu time. Termina! Nasceu para acabar. Quem dúvida ? É com a porta batendo, com o telefonema da madrugada, com o desabafo de eu não aguento mais. O amor termina. E se não terminou, não foi amor. Era puta emocional. Doer, dói. E vai fazer o quê ? Faz parte. Acaba por aqui, começa por ali. Amor é armadilha. Sem nenhum futuro. Várias frases idiotas com a mesma idéia, e está tudo no filme. Fique comigo, gata, gostosa, linda. As pessoas podem ser diferentes. As histórias de amor, são todas iguais! Na China ou na Bolívia. Dos jornalistas aos cobradores de ônibus. Volte, me abraça! Porque em 2046, um dos espaços do filme, o amor não será mais dolorido. Acontecerá entre andróides acostumados a levar os golpes da falta de comunicação. A solidão será linda. O filme é no futuro, o amor é a mesma merda de sempre. Cada um tem seu estilo. Não há trégua. E não existe casca grossa que faça o próximo desencontro doer menos. O amor é um farol que ilumina pra trás. Ilumina o passado. Se sofreu ontem, não vai amenizar o sofrimento de amanhã. Dói, cada vez mais. Coração partido, peito rachado, solidão filha da puta! É uma bosta. O amor é uma merda. E é ridiculo com essas frases curtas. Eu te amo. Beije-me. Não me deixe. 2046 é de chorar com a forma que apresenta o desapego para o que pode parecer qualquer alento à felicidade. Se existe qualquer tipo de esperança, ficou na mesa dos editores. Apenas se chora. No telão e no púbico. O único pensamento positivo seria o do amor sem otimismo. Não pode existir esperança em avisar a paixão ao outro. Eu te quero, ela não me quer. É a conversa que mais se ouve! Ninguém compreende porra nenhuma, mas eu quero rever. Ninguem quer entender. Se a busca pela felicidade fosse tirada de nossas vidas, ninguém mais sairia de casa. Porém, só isso nos sobrou: Uma viagem para 2046, o lugar em que a memória de quem amou, não irá mais doer. Por favor, rapaz, me vê um bilhete nesse trem.. Isso, sem passagem de volta.
Adaptação:
Uma Maria chamada Gadú
JUNHO DE 2010
Um título egocêntrico, mas que define perfeitamente a originalidade e a forma autoral que se apresenta seu primeiro álbum: “Maria Gadú”. A cantora entra em cena como um dos nomes mais bem falados no mercado fonográfico e com uma voz que promete preencher a lacuna que faltava na MPB.
Já na capa do trabalho se percebe a singularidade que a artista busca. Ela, sozinha, sentada. O assento: uma escadaria. A companhia: um violão. Um espelho da timidez e do jeito isolado de ser, que proporcionou a composição de oito músicas do álbum sem parceria. A música de abertura é Bela Flor que já traz logo de cara o estilo e o que a cantora quer passar: uma mistura de paz, letras inteligentes e doces melodias.A segunda música, é o samba “Altar Particular”, que, além de ser interpretado, também foi composto por ela. A canção traz um velho atrativo para composições: decepção amorosa. O que mais atrai nessa faixa é a letra. A compositora não cai em clichês, o que seria muito fácil nesse caso. Trata o assunto de uma forma tão particular, que faz esse samba já nascer clássico. Parte comovedora do disco é “Dona Cila”. A música é uma homenagem de Maria à sua, já falecida, avó. A letra, tocante, fica ainda mais valorizada acompanhada do acordeom.
A canção mais conhecida de Maria é “Shimbalaiê”, composta quando a artista tinha apenas 10 anos de idade. Parte do sucesso da música se deve por ter feito parte da trilha sonora da novela da Rede Globo de Televisão. O título da canção já remete à tranqüilidade. A letra segue como se fosse um roteiro de adoração à natureza. A sonoridade é agradável.
Um dos grandes acertos desse álbum foi a escolha de uma música composta por Chico Buarque de Holanda. A preferência por esse compositor não é lá muita novidade, já que muitos cantores se favorecem das composições do artista, mas o “tiro certo” de Maria foi ter optado pela canção “A História de Lilly Braun”. A harmonia, a letra e a voz da cantora são cativantes. A música tem um “quê” de sedução, mas sem malícias, sem vulgaridade. O ápice do álbum é a música “Tudo Diferente”. Composta por Leandro Carvalho, trata-se de uma singela canção de amor. O misto de violão e violino dá um toque de aconchego à música, agradabilíssima aos ouvidos.
A faixa 5 do álbum, “Escudos”, tem uma batida mais rápida. É feita uma introdução somente com o violão, e depois são acrescentados outros instrumentos. “Encontro” parece ser o reflexo do estilo da artista. Ela gosta de brincar com a voz e nessa música parece depositar todo sua essência. É a faixa na qual parece mais à vontade cantando. Fica nítido.
O sucesso “Ne me Quite Pas” ganhou um novo respiro. O clássico francês foi recheado com o tango argentino e a intérprete foi original, não copiando artistas que já emprestaram a voz à música. “Linda Rosa” causa sinestesia. A doçura da melodia e a letra remetem à figura da moça que ela retrata. Uma menina inocente que é galanteada por rapazes. Novamente o amor é tratado no CD de uma forma pouco explorada atualmente na Música Popular Brasileira.
Mas nem tudo são flores no álbum de Gadu. “Lounge” é repetitiva demais. E “Laranja” é a mais pop do disco e ao mesmo tempo a mais fraca em melodia. O arranjo ficou muito previsível. A cantora tenta inovar, regravando a música “Baba”, interpretada e composta por Kelly Key. O resultado ficou muito bom, não dá nem para comparar com a primeira versão. A nova roupagem deu vida à música. Porém, destoa do restante do álbum. Percebe-se que a cantora segue uma linha em todo o CD que é quebrada ao chegar em “Baba”.
Enfim, quando olham a capa do CD ou a vêem pisando no palco podem pensar que faz parte de uma nova onda rock´n´roll, meio punk, meio indie. Ousada, ela parece mesmo que vai chegar na marra, cheia de atitude; mas basta abrir a boca, para a cantora mostrar suavidade em forma de MPB, com tudo muito próprio: letra, música e voz. Este contraste surpreende e seduz. É essa peculiaridade que não permite compará-la a nenhuma outra cantora e que faz de seu primeiro álbum um delicioso aperitivo que me faz aguardar com muita gula os próximos trabalhos.
Um dos grandes acertos desse álbum foi a escolha de uma música composta por Chico Buarque de Holanda. A preferência por esse compositor não é lá muita novidade, já que muitos cantores se favorecem das composições do artista, mas o “tiro certo” de Maria foi ter optado pela canção “A História de Lilly Braun”. A harmonia, a letra e a voz da cantora são cativantes. A música tem um “quê” de sedução, mas sem malícias, sem vulgaridade. O ápice do álbum é a música “Tudo Diferente”. Composta por Leandro Carvalho, trata-se de uma singela canção de amor. O misto de violão e violino dá um toque de aconchego à música, agradabilíssima aos ouvidos.
A faixa 5 do álbum, “Escudos”, tem uma batida mais rápida. É feita uma introdução somente com o violão, e depois são acrescentados outros instrumentos. “Encontro” parece ser o reflexo do estilo da artista. Ela gosta de brincar com a voz e nessa música parece depositar todo sua essência. É a faixa na qual parece mais à vontade cantando. Fica nítido.
O sucesso “Ne me Quite Pas” ganhou um novo respiro. O clássico francês foi recheado com o tango argentino e a intérprete foi original, não copiando artistas que já emprestaram a voz à música. “Linda Rosa” causa sinestesia. A doçura da melodia e a letra remetem à figura da moça que ela retrata. Uma menina inocente que é galanteada por rapazes. Novamente o amor é tratado no CD de uma forma pouco explorada atualmente na Música Popular Brasileira.
Mas nem tudo são flores no álbum de Gadu. “Lounge” é repetitiva demais. E “Laranja” é a mais pop do disco e ao mesmo tempo a mais fraca em melodia. O arranjo ficou muito previsível. A cantora tenta inovar, regravando a música “Baba”, interpretada e composta por Kelly Key. O resultado ficou muito bom, não dá nem para comparar com a primeira versão. A nova roupagem deu vida à música. Porém, destoa do restante do álbum. Percebe-se que a cantora segue uma linha em todo o CD que é quebrada ao chegar em “Baba”.
Enfim, quando olham a capa do CD ou a vêem pisando no palco podem pensar que faz parte de uma nova onda rock´n´roll, meio punk, meio indie. Ousada, ela parece mesmo que vai chegar na marra, cheia de atitude; mas basta abrir a boca, para a cantora mostrar suavidade em forma de MPB, com tudo muito próprio: letra, música e voz. Este contraste surpreende e seduz. É essa peculiaridade que não permite compará-la a nenhuma outra cantora e que faz de seu primeiro álbum um delicioso aperitivo que me faz aguardar com muita gula os próximos trabalhos.
Tátila Pereira
Um leve cheiro de coisa nova
JUNHO DE 2010

A banda irlandesa U2 criou uma identidade, um estilo, um novo rock. Isso se mantém desde 1980, disco após disco, em uma verdadeira explosão de efeitos sonoros. A proximidade com causas sociais, o ritmo consagrado das músicas, a voz marcante de Bono, fizeram com que o grupo alcançasse o disco número 12. Lançado em 2009 “No Line on the Horizon” é uma aventura que começou em 2006. Mesmo ficando algum tempo “debaixo da cama” da burocracia empresarial as letras, o arranjo e o formato não ficaram empoeirados; o trabalho permaneceu com um leve “cheiro de coisa nova”. No entanto sem nada de inovador, surpreendente.
As músicas “No Line on the Horizon” e “Magnificent” abrem o disco com bastante de fôlego. Elas conseguem manter um ritmo legal para o começo do CD, aguçando a vontade de ouvir as outras canções. São daqueles hits que você fica com o refrão na cabeça. Uma marca registrada do U2.
Nas outras faixas o trabalho da banda não consegue manter essa linha. O disco se mostra muito mais maduro, meditativo e com poucas inventividades. Bono e os outros integrantes aparecem sem a vivacidade, encontrada em outros trabalhos, já consagrados. E isso acabou sendo transmitido para as canções.
“Stand Up Comedy” foi exceção, ao trazer um bom riff tocado quase que naturalmente por The Edge. A banda conseguiu segurar o restante da música, chegando até o refrão melódico. Uma canção que poderia cair no gosto de uma adolescente de 15 anos e atrair uma senhora de 80. Mas sem potencia comercial.
Nesse quesito acredito que “Breath” é um hit a altura das três décadas de sucesso da banda. A canção tem força, apelo de rock, sem deixar de mostrar certa melodia. Por outro lado o disco termina com “Cedar of Lebanon”, música lenta e cansativa. Uma boa oportunidade para o ouvinte apertar pause ou stop.
O álbum não está ruim, apenas não atingiu as expectativas de um lançamento realizado após 5 anos sem novos trabalhos. Parece que a banda não encontrou algo que pudesse sair da linha do horizonte. O trabalho está bem produzido, não perdeu a identidade da banda, mas poderia ter tido mais destaque. Em alguns momentos a participação do guitarrista The Edge - conhecido pela sua força musical - pareceu isolada. A voz de Bono na maioria das músicas não ficou refletida no som da guitarra de The Edge - como acontece em outros trabalhos. Apenas na música “Breathe” a banda conseguiu sincronia entre efeitos, instrumentos e voz; fazendo com que o ouvinte imaginasse estar rodeado por uma legião de fãs em uma turnê.
Faltou o U2, da ousadia, dos álbuns impressionantes e investimentos autos em efeitos especiais. Até o gosto exagerado parece ter sumido. Em nenhum momento houve uma canção capaz de mexer com qualquer compositor, ou de se candidatar automaticamente as grandes paradas de sucesso. A banda persistiu no estilo básico, característico e trouxe como novidade: a falta dela.
Maycon Corazza
As músicas “No Line on the Horizon” e “Magnificent” abrem o disco com bastante de fôlego. Elas conseguem manter um ritmo legal para o começo do CD, aguçando a vontade de ouvir as outras canções. São daqueles hits que você fica com o refrão na cabeça. Uma marca registrada do U2.
Nas outras faixas o trabalho da banda não consegue manter essa linha. O disco se mostra muito mais maduro, meditativo e com poucas inventividades. Bono e os outros integrantes aparecem sem a vivacidade, encontrada em outros trabalhos, já consagrados. E isso acabou sendo transmitido para as canções.
“Stand Up Comedy” foi exceção, ao trazer um bom riff tocado quase que naturalmente por The Edge. A banda conseguiu segurar o restante da música, chegando até o refrão melódico. Uma canção que poderia cair no gosto de uma adolescente de 15 anos e atrair uma senhora de 80. Mas sem potencia comercial.
Nesse quesito acredito que “Breath” é um hit a altura das três décadas de sucesso da banda. A canção tem força, apelo de rock, sem deixar de mostrar certa melodia. Por outro lado o disco termina com “Cedar of Lebanon”, música lenta e cansativa. Uma boa oportunidade para o ouvinte apertar pause ou stop.
O álbum não está ruim, apenas não atingiu as expectativas de um lançamento realizado após 5 anos sem novos trabalhos. Parece que a banda não encontrou algo que pudesse sair da linha do horizonte. O trabalho está bem produzido, não perdeu a identidade da banda, mas poderia ter tido mais destaque. Em alguns momentos a participação do guitarrista The Edge - conhecido pela sua força musical - pareceu isolada. A voz de Bono na maioria das músicas não ficou refletida no som da guitarra de The Edge - como acontece em outros trabalhos. Apenas na música “Breathe” a banda conseguiu sincronia entre efeitos, instrumentos e voz; fazendo com que o ouvinte imaginasse estar rodeado por uma legião de fãs em uma turnê.
Faltou o U2, da ousadia, dos álbuns impressionantes e investimentos autos em efeitos especiais. Até o gosto exagerado parece ter sumido. Em nenhum momento houve uma canção capaz de mexer com qualquer compositor, ou de se candidatar automaticamente as grandes paradas de sucesso. A banda persistiu no estilo básico, característico e trouxe como novidade: a falta dela.
Maycon Corazza
2016
Ah, se os casais mal sucedidos vissem 2046. Não sofreriam. Jamais acordariam à noite para olhar as estrelas. Não lembrariam, depois, de como foram infelizes. Conformariam-se com a saga dos amantes, com todos os truques que apenas funcionam para evitar o 'eu te odeio!'. Assim. Simples. Passe bem, sua idiota!. Quando quiser, venha buscar o DVD do Smiths. A blusinha lilás está no quarto dos fundos. Sem problemas. No hay ressentimentos. Nem sempre a solução está na caixinha de remédios. Às vezes, o maior bem para as decepções amorosas se encontra em uma sala de cinema. A esperança está no quarto ao lado. No 2046. A única inconveniência, é que o hóspede sempre muda. O casal de eternos apaixonados, ao ver 2046, lembraria o que já estava escrito antes mesmo de se conhecer naquela boate. Analisaria com mais cautela antes de se aventurar deixando suas famílias de lado. A impossibilidade em concretizar o amor ecoaria. Nas ruínas do big-bang, já estava escrito. Não vai dar certo! Só quem quiser se engana. Dura. Dois dias. Três. Cinco anos. Depois disso, acaba. Desde o jogo das algas marinhas até a dormir em conchinha. O casal não esqueceria que o amor encerra as portas às duas da manhã e não ouve mais nada. Não há saideira. Deveria entender. Existe algo de inteligente nisso. Respirar. Admitir. É o que se pode fazer. O amor acaba. Com um bocejo no café da manhã e um grito de puta. Acaba às 5h30 da manhã, sendo anunciado por um galo. E é necessário ouvir bem para se tocar. Tinha uma história de uma mulher que gemia em u. Numa noite de verão suspirou em i. Não houve surpresa pra ela. Pela manhã, o travesseiro ao lado estava vazio. Seu marido partiu.Não há segredo nenhum em Segredos do amor - 2046 - de Wong Kar-Wai. É como se fosse um torcedor comum que levanta uma placa no estádio: Eu já sabia! Comemorando o título do seu time. Termina! Nasceu para acabar. Quem dúvida ? É com a porta batendo, com o telefonema da madrugada, com o desabafo de eu não aguento mais. O amor termina. E se não terminou, não foi amor. Era puta emocional. Doer, dói. E vai fazer o quê ? Faz parte. Acaba por aqui, começa por ali. Amor é armadilha. Sem nenhum futuro. Várias frases idiotas com a mesma idéia, e está tudo no filme. Fique comigo, gata, gostosa, linda. As pessoas podem ser diferentes. As histórias de amor, são todas iguais! Na China ou na Bolívia. Dos jornalistas aos cobradores de ônibus. Volte, me abraça! Porque em 2046, um dos espaços do filme, o amor não será mais dolorido. Acontecerá entre andróides acostumados a levar os golpes da falta de comunicação. A solidão será linda. O filme é no futuro, o amor é a mesma merda de sempre. Cada um tem seu estilo. Não há trégua. E não existe casca grossa que faça o próximo desencontro doer menos. O amor é um farol que ilumina pra trás. Ilumina o passado. Se sofreu ontem, não vai amenizar o sofrimento de amanhã. Dói, cada vez mais. Coração partido, peito rachado, solidão filha da puta! É uma bosta. O amor é uma merda. E é ridiculo com essas frases curtas. Eu te amo. Beije-me. Não me deixe. 2046 é de chorar com a forma que apresenta o desapego para o que pode parecer qualquer alento à felicidade. Se existe qualquer tipo de esperança, ficou na mesa dos editores. Apenas se chora. No telão e no púbico. O único pensamento positivo seria o do amor sem otimismo. Não pode existir esperança em avisar a paixão ao outro. Eu te quero, ela não me quer. É a conversa que mais se ouve! Ninguém compreende porra nenhuma, mas eu quero rever. Ninguem quer entender. Se a busca pela felicidade fosse tirada de nossas vidas, ninguém mais sairia de casa. Porém, só isso nos sobrou: Uma viagem para 2046, o lugar em que a memória de quem amou, não irá mais doer. Por favor, rapaz, me vê um bilhete nesse trem.. Isso, sem passagem de volta.
Adaptação:
Pedro Sarolli
Little Joy
JUNHO DE 2010

Little Joy, como já diz a tradução para o português, Breve Alegria, é exatamente a idéia que a banda traz, de ser um bom passatempo, justamente por ser um projeto paralelo, um projeto de férias. Por conta disso, eles só lançaram um cd até hoje, gravado em 2008, e provavelmente não lançarão mais nenhum. A capa do álbum, é uma moça caindo de braços abertos na água, com um grande sorriso estampado no rosto, e um braço solto entre ela e a câmera.A banda é formada pelo talentoso Rodrigo Amarante (principal integrante do Los Hermanos, juntamente com Marcelo Camelo) Fabrício Moretti (baterista do Strokes) e Binki Shapiro, namorada de Fabrício. A banda é taxada como Indie Rock, apesar de não seguir o modelo, tentando não se prender a um gênero musical.
A primeira música do álbum é The Next Time Around, que traz muito a idéia principal da banda: ritmo relaxante, riff criativo e uma batida constante na caixa da bateria, remetendo a férias, praia e mar. Outro fator interessante é ver Rodrigo Amarante cantando em inglês, e cantando bem, surpreendendo a muitos que o criticavam nos tempos dos hermanos. O mais interessante é que a banda conseguiu imprimir em quase todas as suas músicas essa sensação que é igual à de quando decidiram criar o projeto, a sensação de tranqüilidade, sem o peso e a expectativa de uma grande e famosa banda, o sentimento de férias. No show que fui, a música inteira foi cantada pelos fãs, surpreendendo até aos próprios músicos, que não esperavam esse respaldo, chegando a afirmar no palco, que Curitiba era palco da sua melhor apresentação até então.
A primeira música do álbum é The Next Time Around, que traz muito a idéia principal da banda: ritmo relaxante, riff criativo e uma batida constante na caixa da bateria, remetendo a férias, praia e mar. Outro fator interessante é ver Rodrigo Amarante cantando em inglês, e cantando bem, surpreendendo a muitos que o criticavam nos tempos dos hermanos. O mais interessante é que a banda conseguiu imprimir em quase todas as suas músicas essa sensação que é igual à de quando decidiram criar o projeto, a sensação de tranqüilidade, sem o peso e a expectativa de uma grande e famosa banda, o sentimento de férias. No show que fui, a música inteira foi cantada pelos fãs, surpreendendo até aos próprios músicos, que não esperavam esse respaldo, chegando a afirmar no palco, que Curitiba era palco da sua melhor apresentação até então.
A segunda faixa é a melhor do álbum. Brand New Start destaca-se por uma melodia extremamente agradável, um arranjo criativo e uma letra muito boa. Talvez devesse ser a primeira música do álbum, justamente pelo título, remetendo a um novo começo. Quase unânime na preferência dos críticos e fãs, Brand New Start cativa aos ouvintes pela sua simplicidade, que é tão agradável aos bons ouvintes. Remete mais uma vez a praia, trazendo a sensação de estar de óculos escuros, dirigindo um conversível, sentindo o vento bater ao som desta bela canção(essa frase me fez lembrar a ótima música “O vento” do Los Hermanos).
A terceira é Play the Part. Bem ao estilo Los Hermanos, ao estilo Amarante, voz e violão, naquele estilo melancólico tão comum nas músicas dos hermanos. Uma das músicas com menos destaque do álbum, não querendo dizer que não seja uma boa música. A música número quatro é uma das mais animadas da obra. One’s Better Sake é diferente. Causa certo desconforto na primeira vez que é ouvida. É o exemplo clássico da música que deve se escutar mais de uma vez para começar a gostar, dando uma estranha vontade de balançar a cabeça de um lado pro outro. Possui um riff e um ritmo novo, juntamente com a bateria, variando o tempo inteiro.
É fácil fazer uma critica quando se trata de uma obra como essa. Fica a expectativa de que venha um novo cd, nas próximas férias. Provavelmente não. Como o nome da banda diz, eles nos proporcionaram um pouco de alegria ao criar esse cd, sem planos, sem futuro, sem continuidade. Somente um pouco de alegria.
Pedro Sarolli
A boa ética brasileira
JUNHO DE 2010
A ética tem sido colocada na estante dos adjetivos, à disposição para completar uma frase, e encher a boca de muita gente. Em ano de “vale tudo por um voto” então, os políticos deitam e rolam nos discursos. Mas que deslize o meu, falar da dita ética e política ao mesmo tempo... Isso não é assunto pra ano eleitoral. É como levar o diabo pra rezar a missa.
A quinta música do álbum é a tranqüilizante Unattainable. Como um amigo meu comentou uma vez: “Essa música é boa pra ouvir na praça, fumando um cigarro observando alguma bela garota passeando com um cachorrinho”. Binki Shapiro surpreende a todos e canta muito bem em sua primeira participação significativa no Cd. Como li em outra critica, Binki cativou os fãs com sua voz clássica do indie rock: rouca e um pouco desafinada. Coloque a música cinco pra tocar, deite em algum lugar bem confortável e feche os olhos.
A sexta música é Shoulder to Shoulder é uma música razoável. Muito parada, cansativa. Acredito ser a pior do álbum. Particularmente não gostei dessa música. É a típica música que mesmo insistindo em ouvir você não consegue gostar. A sétima faixa é With Strangers. Dotada de uma aprazabilidade sonora, mas sem muita estrela. Tem um bom arranjo musical, uma boa harmonia, mas talvez não seja aquela música que faça sucesso.Soma ao álbum, mas não se destaca.
A oitava canção é a ótima Keep me in Mind. Está entre as preferidas dos fãs, sendo uma das mais procuradas na internet. O começo dela é muito bom, com um riff simples, mais bem pensado. A harmonia entre os instrumentos é notável. A sensação é que a música fosse como um quebra cabeça perfeito, montado e igual à figura modelo da caixa. Por ser fácil,o refrão dessa música foi o mais cantado no show.
A música número 9 é intitulada de How to Hang a Warhol. É a mais diferente de todas do álbum. Com um ritmo meio country, essa faixa contagia. A letra retrata um filho fazendo mil promessas aos pais, de que tudo vai dar certo, de que ele vai ser famoso: “Mamãe, algum dia você terá muito orgulho de mim.Você me verá expondo na New York Gallery.”
A penúltima música do álbum é uma das mais belas. Don’t watch me dancing possui uma beleza particular. Suave, essa bela canção premia os ouvintes que já estão muito satisfeitos com o trabalho do Little Joy, fazendo com que eles já imaginem como será o próximo cd. Bink Shapiro lidera a canção, que teve seu refrão cantado a pleno vapor por todos que estavam no show naquela noite. O pequeno solo que está presente nessa música é simples mais tão gostoso de ouvir, que dá vontade de voltar nele para ouvir mais uma vez, e mais uma, e mais uma.
A última música do cd é uma composição de Rodrigo Amarante, intitulada Evaporar. Voz e violão. Ótima música, agradável, mas não encaixa no cd. Li algumas criticas sobre esse cd, e muitos foram quase unânimes em dizer que essa música não deveria estar nesse álbum, pois remete muito a banda antiga banda de Amarante, o Los Hermanos. Concordo plenamente. Rodrigo deveria ter guardado essa canção para um trabalho solo.A oitava canção é a ótima Keep me in Mind. Está entre as preferidas dos fãs, sendo uma das mais procuradas na internet. O começo dela é muito bom, com um riff simples, mais bem pensado. A harmonia entre os instrumentos é notável. A sensação é que a música fosse como um quebra cabeça perfeito, montado e igual à figura modelo da caixa. Por ser fácil,o refrão dessa música foi o mais cantado no show.
A música número 9 é intitulada de How to Hang a Warhol. É a mais diferente de todas do álbum. Com um ritmo meio country, essa faixa contagia. A letra retrata um filho fazendo mil promessas aos pais, de que tudo vai dar certo, de que ele vai ser famoso: “Mamãe, algum dia você terá muito orgulho de mim.Você me verá expondo na New York Gallery.”
A penúltima música do álbum é uma das mais belas. Don’t watch me dancing possui uma beleza particular. Suave, essa bela canção premia os ouvintes que já estão muito satisfeitos com o trabalho do Little Joy, fazendo com que eles já imaginem como será o próximo cd. Bink Shapiro lidera a canção, que teve seu refrão cantado a pleno vapor por todos que estavam no show naquela noite. O pequeno solo que está presente nessa música é simples mais tão gostoso de ouvir, que dá vontade de voltar nele para ouvir mais uma vez, e mais uma, e mais uma.
É fácil fazer uma critica quando se trata de uma obra como essa. Fica a expectativa de que venha um novo cd, nas próximas férias. Provavelmente não. Como o nome da banda diz, eles nos proporcionaram um pouco de alegria ao criar esse cd, sem planos, sem futuro, sem continuidade. Somente um pouco de alegria.
Pedro Sarolli
A boa ética brasileira
JUNHO DE 2010
A ética tem sido colocada na estante dos adjetivos, à disposição para completar uma frase, e encher a boca de muita gente. Em ano de “vale tudo por um voto” então, os políticos deitam e rolam nos discursos. Mas que deslize o meu, falar da dita ética e política ao mesmo tempo... Isso não é assunto pra ano eleitoral. É como levar o diabo pra rezar a missa.
Bom, o fato é que as preliminares eleitorais desse ano começaram cedo e quentes “como nunca na história desse país”. Os três principais candidatos à presidência da república já estão vestidos com suas peles de cordeiros – o Serra prefere que chame de capa, pois combina mais com seu perfil “draculístico” – acompanhados de seus jargões e com muita “determinação pelo Brasil”. Os assuntos tratados são variados: educação, saúde, emprego, meio ambiente, Lula e FHC.
Chegou mais uma vez a hora do eleitor fazer a sua escolha. E é aqui que o erro começa. O povo que tanto reclama da corrupção dos políticos, se deixa corromper por 20 reais, dentaduras e afins. A base da democracia está tão corrompida quanto à ponta do iceberg. O resultado disso? Aquilo que vemos na televisão, ou o que não vemos, mas sentimos toda vez que falta médico no posto de saúde, por exemplo.
É claro que existem exceções, como os 1 milhão e seiscentos mil brasileiros que lutaram pelo projeto “Ficha Limpa”. Na prática isso significa que políticos condenados pela Justiça em decisão colegiada em processos ainda não concluídos estarão proibidos de se candidatarem. Esse tipo de atitude deveria nortear o eleitor, e leva-lo a discutir a política e a ver os seus interesses refletidos no rosto de cada candidato.
Do outro lado da estória os supostos dossiês começaram a surgir, como uma “dádiva divina”. Se preparem, pois esse ano parece que tem munição para abastecer as escopetas de plantão. E o pior, esses tiros são daqueles que nunca saem pela culatra.
Torce-se para que dessa vez as coisas sejam diferentes, e que a sociedade perceba que a ética do político é a mesma da dona de casa e do pedreiro. Falar de eleição, ou de qualquer coisa sempre vai envolver essa palavra de 5 letras. Por isso entender o aspecto ético é caminhar com passos firmes, independente do lugar.
Maycon Corazza
The Mário Lemanski goes to...
JUNHO DE 2010
“Nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som”. Medo, receio de que as novas experiências e aventuras acadêmicas não dessem certo. Desejo de que o esforço realmente valesse a pena. Deixemos o silêncio de lado. O que a gente quer é fazer barulho. Eis que chegam os nossos almejados seminários de práticas. Finalização de trabalhos, inscrição, correria. Abertura as 19:00h, e a apresentação estava sendo elaborada 18:50h. Não por falta de dedicação, mas exatamente por excesso dela: zelo com cada palavra, com cada imagem, cada respiro. Estão em jogo dois prêmios que já são tradição na faculdade: Mário Lemanski e Galo de Ouro. Jornalismo e Publicidade e Propaganda, respectivamente. Primeiro, segundo, terceiro dia. Webjornalismo, Radiojornalismo, Documentário, Assessoria de Imprensa, Audiovisual, Telejornalismo, Fotojornalismo e Impresso. Ufa. Metas cumpridas a cada noite. Ansiedade aumentando a cada nova apresentação. Meus coleguinhas vão entender quando eu disser que o seminário tinha um gostinho diferente nesse ano (#AdeusHegemonia). Apostamos em alguns trabalhos, nos decepcionamos com outros. Acreditamos na força de uma sala que tem nichos bem definidos, mas que em momentos como esse mostra que é mais unida do que olho de vesgo. Auditório lotado pra única noite em que Jornalismo e Publicidade se juntavam. Publicitários, não nego, têm uma criatividade sem tamanho. Stand up comedy e jogo de improviso arrancaram risos, gargalhadas num momento de tensão. E agora sim: The Mário Lemanski goes to... To Show da Copa em Radiojornalismo, to Pirâmide Impedida em Webjornalismo, To Anacronismo: está tudo no timing em Audiovisual, To Observatório em Impresso, to Salto Alto em Assessoria, to Tuiuti: uma história que continua em Documentário, to Água na Boca em Telejornalismo. Minha nossa, o Pirâmide. Nossa viagem na internet, aquela brincadeira que virou coisa séria, aquela vontade de fazer diferente. Pai eterno, o Pirâmide ganhou. Ficamos felizes, encantados, entusiasmados: é só o primeiro, valeu muito a pena. Jéssica Moreira, Maycon Corazza, Tátila Pereira, assim como eu mal conseguiam tirar foto com o prêmio de tão eufóricos. Estão se perguntando: e o Pedro Sarolli? Ê, Pedroca, cara de paçoca. Faltou bem no dia da nossa recompensa. Tratei de avisá-lo por telefone. “Pedro, ganhamos a categoria de web.” “Sério?” “Sério.” Senti na voz a alegria de satisfação por um serviço bem feito. Pena que o prêmio não se divide em cinco. Pena nada, mais um motivo pra gente se manter mais junto: o troféu é dos cinco. E o troféu é da Adriane, do Fábio, da Marilete, da Adriana, da Rosane, Débora, Vinícuis, Rhayane, Douglas, Karol, Amanda. É do 3º período inteiro. É do Silvio, do Papito Claudemir, do Ralphinho. É da Fran, da Marcinha, do Sondoso. E do Carlão. O troféu é só mais alguma coisa material, mas a conquista é, meus babys, incomparável. Para os pobres de espírito: “The Oscar goes to US”, e não “to you.”. “Tudo pra chegar no final descabelados, acabados e poder dizer: ARRASAMOS!”
Marcele Antonio
Mas por que professor?
JULNHO DE 2010

Entre jornalistas e publicitários existe um mistério. Comunicadores: passageiros do mesmo avião. Mas, contudo, no entanto ainda não se bicam por completo. Nós, acadêmicos de jornalismo vemos isso ainda mais evidente quando chega o tão esperado seminário de práticas: para eles, o Galo de Ouro, pra nós o prêmio Mário Lemanski.
- Professor, por que o folder de Publicidade e Propaganda é mais bonito?
- Acha, é só impressão. Não gostaram do de vocês?
- Não é que tá feio. Só tá menos bonito.
Minha nossa, acreditem, até na caixa de entrada do meu e-mail, o folder deles abre mais rápido que o nosso. E não. Não esqueci o seminário passado. Imagina esquecer que as pessoas desviavam do seminário de jornalismo para o de publicidade, só porque lá tinha coffe break.
- Professor, por que o seminário de PP tem lanche e o nosso não?
- Eles conseguem patrocínio.
Detalhes, detalhes. Tão minuciosos quanto:
Professor, por que o curso deles tem meninos gatos, e o nosso não?
Marcele, Jéssica e Tatila
Comida e Banheiro
JUNHO DE 2010
Tomohito mora na cidade de Wakayama shi, estado do Wakayma. O município tem aproximadamente 370 mil habitantes, e tem como principal fonte de renda a comercialização de laranjas. Há 700 quilômetros de Tóquio, capital do Japão, Wakayama shi fica em uma região litorânea, ao sul do país.
Criado em um sistema político diferente do nosso - o parlamentarismo – Tomohito não tem participação em questões políticas. “A principal preocupação é com os estudos. Somente depois disso é que vamos pensar em política”, explicou Tomohito mostrando que não domina o assunto. São os pais os responsáveis por essas decisões. Nesse momento o intérprete Firomi interrompe a conversa, para nos atentar para o jogo da Superliga feminina de vôlei. “Olha lá, azedou a maionese. Tá 23 a 12 para o Osasco”.
Bom, vamos voltar a história de Tomohito. A escola japonesa segue uma hierarquização parecida com a do Brasil. Existem três fases que correspondem ao ensino infantil, fundamental e médio brasileiro. Durante o período que passam na escola os alunos são incentivados a lerem, desde mangás até livros literários. “Lendo nós buscamos aprender bastante” traduz o intérprete.
Criado nesse sistema, Tomohito foi incentivado a fazer um intercâmbio. Seu pai já havia visitado o Brasil, passando por Foz do Iguaçu-PR, Amazonas e São Paulo. A viagem rendeu elogios ao nosso clima e ao jeito brasileiro de ser. Mas na hora que foi escolher o local para o intercâmbio, o que mais pesou foi o futebol.
Antes de prosseguirmos “seo” Firomi colocou os óculos e não se conteve. “ O Osasco tá na frente mas o jogo não acabou não. Essa Nathália bate que nem uma cavala.”
Brasileiras: eu gosto
O intercambista chegou ao Brasil depois de enfrentar uma jornada aérea, com direito a muitas escalas. Tomohito passou os primeiros dias em terras brasileiras sofrendo com o “dito cujo” do fuso-horário. “É terrível”. Aqui em Cascavel ele começou a esculpir o Brasil. Não viu carnaval – a não ser pela televisão – muito menos praias.
O jovem japonês chegou aqui falando um inglês básico e muito pouco de português. Para não dizer que ele não sabia falar nada, aprendeu duas palavras: comida e banheiro. Tomohito riu muito quando contou isso para nós. Imagine, além da dificuldade enfrentada quanto à cultura, horário, costumes, ainda tinha o bendito idioma. E o que ele sabia dizer? O básico das necessidades.
Dificuldades a parte, Tomohito começou a frequentar a escola desde o primeiro mês, onde estuda das sete e quinze da manhã ao meio-dia e dez. Duas vezes por semana Tomohito também tem revisões a tarde, que serve como um reforço. Foi nesse contato diário, que ele descobriu uma das principais características dos brasileiros: a receptividade calorosa.
“Lá no Japão é bem diferente, as pessoas são mais frias. É muito difícil, por exemplo, alguém ir à casa de outra pessoa e ficar muito tempo. Você pode até fazer uma visita, mas sem demorar. Isso independente se é amigo ou parente.”
Ele conheceu também os “jeitinhos” brasileiros e a falta de pontualidade. “O japonês é assim: se algo está marcado para as oito horas, vai ser aquele horário. Nem mais, nem menos.” São essas experiências que fazem do intercâmbio, um programa divertido e culturalmente enriquecedor.
É claro que não poderíamos deixar de perguntar para Tomohito sobre as belezas do Brasil – não estamos nos referindo as naturais, mas as de carne, osso e bunda. “Gostei delas. Gostei muito”, ele fala rindo ao mesmo tempo em que demonstra estar com vergonha. “Entre uma japonesa e uma brasileira, prefiro a brasileira.”
Existem coisas que não mudam: homens. Já outras que podem mudar radicalmente, como a comida. Em geral a alimentação japonesa é menos gordurosa que a nossa. “Por isso que eles são assim, magrinhos”, disse Firomi aproveitando a deixa. Mas Tomohito não reclamou em nenhum momento dos sabores do Brasil. “Gosto bastante de strogonoff e risoto”, disse ele em português.
No geral Tomohito está aproveitando sua estadia no Brasil, e é claro que para isso não poderia faltar aquela partidinha de futebol. No Japão ele jogava praticamente todos os dias em Wakayama, mas aqui no Brasil essa rotina de jogos diminuiu: joga somente por uma hora às sextas-feiras. Luís Guilherme, integrante da primeira família que abrigou Tomohito, foi quem começou a marcar os jogos. O time é formado por colegas de classe do japonês, estudantes de um colégio particular.
O campo sintético, onde são feitas as “peladas” fica num barzinho de dois andares, na rua Paraná. O nome é bem sugestivo: Bar e Bola. Jhonatan, homem barbudo de largura avantajada, cabelos cacheados e compridos, é quem cuida do local. Ele nem olha para o campo, apenas marca o tempo de cada jogo. A televisão ligada no Discovery Channel mostra o interesse de Jhonatan pelos jogos - nenhum.
Quando Tomohito chega, o homem aponta: “olha ali! É ele.” Tomohito entra no bar, com um olhar meio assustado, olhos arregalados – na medida do possível. Ele sobe pela escada que o leva até onde estão os amigos. Tem aquela típica recepção brasileira: tapinhas nas costas e apertos de mão. “E ai, Tomo, tudo beleza?”. Tomohito responde a todos com cordialidade, mas também com timidez. Fica quietinho, apenas observando o campo, onde um time tomava uma “lavada”. Olhava com olhos de quem queria estar ali, em campo. Assim, percebemos o quanto ele é apaixonado por futebol.
O time do coração de Tomohito é o Gambá Osaka, um dos clubes mais importantes e vitoriosos do Japão. A relação com o Brasil já começa ai: dois brasileiros fazem parte do elenco do clube. Em seu país, Tomohito não frequentava o estádio do Osaka, apenas assistia aos jogos pela televisão. Mas aqui em Cascavel ele teve a sensação de ver de perto o esporte que tanto gosta: foi ao Estádio olímpico Regional Arnaldo Bussatto para assistir ao jogo entre o time da casa e o Coritiba. “Foi muito bom assistir o jogo”, comenta com um sorriso.
Às cinco e meia da tarde, no Bar e Bola, toca o sinal avisando que o tempo se esgotou para os times que estavam em campo. Chega a hora do grupo de Tomo começar a jogar. O japonês usava um tênis, daqueles utilizados para futebol de salão. Ele vai para o campo fazer o aquecimento. Corre em direção a bola, fica chutando, fazendo embaixadinhas, mostrando que não é só brasileiro que tem ginga e habilidade. É o jogo dos sem camisa contra os com camisa, time de Tomohito.
Ele começou como goleiro, mas logo quando tomou o primeiro gol foi colocado no ataque. “Ele tem perfil de atacante”, já havia adiantado Luís Guilherme antes do jogo. Não passou muito tempo até que Tomohito balançasse a rede, fazendo o segundo gol do seu time. Mas estava fácil, seu companheiro tirou a bola do goleiro e cruzou para ele, que só teve o trabalho de empurrar de “chapa” para o fundo do gol.
A partir desse momento, começamos a observar que o futebol não move apenas o Brasil, mas também pessoas como Tomohito. Algo que parece quase impossível, mas que pode ser mais comum do que pensamos. Uma pessoa de outra nacionalidade pode conhecer tão bem quanto nós as técnicas, os dribles e jogadas. Essa ‘brasilidade” já estava presente na vida de Tomohito. Mesmo de longe, ele além de jogar em seu país, também idolatrava um brasileiro: Kaká.
Tomohito é calmo em campo. Não grita, não fala palavrões. Tem até torcida organizada. “Vai, Tomo! Vai, Tomo”. E ainda tem os mais engraçadinhos que o chamam de primo do Jackie Chan. E, incentivado por essa torcida, ele fez mais três gols no decorrer do jogo, ajudando seu time a vencer por 22 a 16. Saiu de campo sorridente, mas com um ar de cansado. Correu muito durante o jogo.
Tentamos conversar com ele. A tentativa foi um tanto frustrada no sentido de conteúdo, porém tiramos proveito para compreender o quanto Tomohito sofre para conviver em um país onde se fala uma língua totalmente diferente da sua.
- Tomohito, você vai embora com o Luís Guilherme?
- Vou, vou... Hã?
- Você vai embora com o Luís Guilherme?
- Não, não, por quê? Você vai?
Além dos colegas da escola, Tomo conta também com sua família brasileira. Durante as horas que passamos com Lenir e Euclélio podemos perceber o quanto está sendo importante a presença de Tomohito. “Para nós é uma boa experiência. Os filhos já cresceram e não estão mais em casa. Com a vinda dele temos uma companhia. Tratamos ele como alguém da família”, disse Euclélio.
Tomohito ainda tem pela frente 5 meses aqui no Brasil. Antes de ir embora para o seu país de origem ele ainda deseja conhecer o Rio de Janeiro e o estado do Amazonas. Além disso, ele vai poder ampliar suas amizades e ampliar cada vez mais sua visão de mundo. “Meu sentimento mudou depois que eu sai do Japão e vim pra cá. E tudo o que eu aprendi aqui vou levar para o Japão, como forma de aprendizado.
Despedimos-nos da figura simpática do Tomohito e do atencioso casal Eclélio e Lenir. Tomo acenou com a mão esquerda, onde um pouco acima usa uma pulseirinha, dessas feitas de barbante, verde e amarela com uma bandeira do Brasil no centro.
Tatila Pereira
Maycon Corazza